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Wednesday 14 June 2017

Mercados financeiros mundiais - Novo estouro de bolha ?

Uma fissão nuclear ocorre a partir do bombardeamento de um nêutron de um átomo contra seu núcleo, que faz repartir o átomo em duas partes, que vem a se chocar com outros dois, prosseguindo até o
processo entrar em colapso. Uma nova bolha financeira mundial está se formando em diversos mercados financeiros, cujas previsões vêem um limiar para entre fins de 2017 e primeiros meses de 2018. Os economistas Mohamed A.El Erian e o suíço Marc Faber (também investidor), e os financistas norte-americanos Bill Gross e Jim Rogers, antevêem esse colapso.

El Erian
Minhas impressões pessoais ? Vamos a elas. Há alguns dias o espanhol Banco Popular (6o. maior) quebrou, em que autoridades monetárias forçaram o Santander a comprá-lo para que se evitasse o pior. A crise na Espanha persiste, enquanto agora recaem sobre títulos do governo italiano, num montante de US$ 1 trilhão. 

Marc Faber
Bancos italianos atingiram seu limite na absorção desses títulos, possuindo uma dívida conjunta de € 235 bilhões (US$ 263 bi), ficando a outra parte em dominância do Banco Central Europeu, BCE, que também já parou de comprar tais títulos. Outra questão diz respeito à China, que mesmo após a crise de 2008, impingiu política de crescimento forçado à base de endividamento, onde um dos muitos resultados foi o surgimento de inúmeras cidades fantasma pelo país, para que se mantivesse o setor de construção civil empregando mão de obra. 

Jim Rogers
Seu mercado bancário, investimentos e exportações foi (e vem sendo) uma cópia fiel do que fez o Japão na década de 1980, onde a cultura da amizade e compadrio, como critério de avaliação de empréstimos a empreendimentos e negócios, próprio da cultura asiática, prevalecia sobre questões técnicas. Em 1991 o Japão enfrentou um colapso financeiro que eclodiu por toda a Ásia. O país encontra-se recessivo (comparativamente ao que desempenhava antes de 1991), mas em recuperação, até os tempos atuais. 

William (Bill) Gross
Nos EUA, o mercado financeiro participa na economia em cerca de 8% do PIB, sendo que em 1947 era de 2,5%. Entre 2000 e 2010 absorveu cerca de 41% dos lucros das empresas. O maior problema está em que neste país as aposentadorias das pessoas são capitalizadas via fundos financeiros, que percorrem bolsas de valores não somente como a NYSE ou Nasdaq, mas bolsas globais em busca de ganhos financeiros, e neste processo acabam se enredando na aquisição de títulos de governos de países europeus, da China e América do Sul). 

Por aqui nossos bancos seguem altamente endividados em mais de R$ 900 bilhões, igualmente pela aquisição de títulos do Tesouro para rolagem de nossa gigantesca dívida interna, que atingiu em abril deste ano cerca de R$ 3,988 trilhões (em 2002 era de cerca de R$ 640 bi). Uma parcela de R$ 280 bilhões desse endividamento foi apenas para capitalizar o BNDES, que acabou emprestando a somente uma empresa, a JBS, cerca de R$ 8,1 bi. Desse endividamento total, 23% são detidos por bancos, 22% por fundos de investimento, 25% por fundos previdenciários (16,2% em 2012, variação de 54%), 15% por estrangeiros e 6% pelo próprio governo.  

Quanto aos bancos, uma seleção de 11 bancos registrou um endividamento médio de R$ 7,83 de dívidas para cada R$ 1,00 em depósitos. Quanto à alavancagem financeira média, envolvendo 27 grandes marcas, ficou em 11,36 vezes em relação a seus respectivos patrimônios. Atenção especial para os bancos públicos : - Levam vantagem quanto ao volume de depósitos, por questões de risco, reduzindo o caráter do endividamento. Por outro lado, arriscam-se mais patrimonialmente na concessão de crédito. Para efeito de parâmetro, em 1999 o Banco Marka, do banqueiro Cacciola, após forte desvalorização do Real, devido à mudança de política para câmbio flutuante, foi decretado insolvente. Sua alavancagem patrimonial era então de 12 vezes. 


Em 2008, em algumas semanas, a ajuda financeira entre os EUA e diversos países europeus estancou o que viria a ser catastrófico. Foram cerca de US$ 25 trilhões à época. Somente nos EUA, até 2010, tiveram de ser gastos US$ 12.8 trilhões para que fosse reerguida a economia (fonte : pbs.org). Como exemplo do esforço produzido, o PIB mundial em 2011 foi de US$ 79,39 trilhões. 

Bolhas financeiras, apesar de seu caráter cíclico,  em grande medida originam-se de arroubos de governo na expansão de crédito, gastos e investimentos desmesurados, crescimento estatal e aposentadorias funcionais. Euforias econômicas de governo que repercutem sobre a valorização de empresas e de suas ações, títulos públicos lançados para a rolagem de endividamentos e esquemas Ponzi e corrupção embutida que surgem no esteio de outras euforias derivadas, as financeiras.  


Ao ouvir que qualquer crise financeira seja decorrente de causa capitalista, lembre : - Boa parcela delas sempre terá em sua composição presença massiva de estados mamutes na economia, governos que (mesmo os não comunistas) abraçam a causa democrática (leia-se socialista) e seu fantasioso estado de bem estar social, à base de endividamento. Formulações mágicas keynesianistas voltadas para o crescimento econômico induzido, plataforma de quase todos os governos, seja o viés à esquerda ou à direita. Monarquias, especialmente as parlamentaristas, contrariamente a governos republicanos democráticos (socialistas), apresentam uma dinâmica mais contida. Mas ainda assim não ficam imunes.   

A falência de um banco, que se torna jogo de cena, é o detonador “nuclear”. Dá-se pelo esgotamento do processo de rolagem desses títulos, cuja alavancagem financeira e velocidade acabam superando as bases de suas operações calcadas na economia real. Nos EUA ocorreu no setor de hipotécas imobiliárias, com a falência do Lehman Brothers, Freddie Mac e Fannie Mae, em 2008, enquanto na Grécia o foi a partir dos gastos públicos e déficits previdenciários, levando à insolvência na rolagem de seu endividamento público, iniciada em 2010 (ainda em prosseguimento).
Passados mais de 8 anos da última crise financeira, as economias mais atingidas, como EUA, Europa, Japão e países periféricos, ainda esboçam recuperação. Uma nova cisão nos mercados financeiros globais dificilmente viria a ser totalmente absorvida. Ainda que todos os esforços viessem a ser realizados, o evento de 2008 ainda vem sendo pago. Logo, dificilmente uma resposta anti-colapso seria plena. A China repercutirá o Japão de 1991, de forma multiplicada, somando-se Europa com a maioria de seus governos e sistema bancário endividados. A bomba,  . . .  será nuclear !

Portanto, o momento exige serenidade quanto a investimentos, e acompanhamento sistemático diário. Para uma estratégia conservadora, quem possui ações deve programar-se, estipulando uma meta de margem de variação positiva em relação aos preços atuais até uma data futura próxima, para venda, visando abandonar o barco. Reinvista em ouro, o melhor ativo sempre, a longo prazo.




Eduardo Mendonça de Lima
Aspirante a Oficial pela PMDF, Bacharel em Economia, pós-graduado em Administração Financeira, e em Análise, Elaboração e Avaliação de Projetos, pela FGV-Brasília. Cursou o mestrado em Economia do Desenvolvimento pela PUCRS. Ex-integrante do Geipot (Min. Transportes) e Agência Brasileira de Cooperação (Min. das Relações Exteriores). Atuou em empresas de porte do setor privado. Atualmente é avaliador de Empresas, perito judicial e docente em cursos de pós-graduação em Macroeconomia e Valuation. Ex-Conselheiro do Corecon-RS - 2010-2016.