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Wednesday 13 May 2015

O compadrio e a destruição do país – Parte I


A inspiração nos surge quando instituições de governo apresentam um mínimo de seriedade e compromisso em querer governar o país adequadamente.
Então nos ocorre a pesquisa, análise e diagnóstico, apontando falhas e meios de suplantá-las.  É, portanto, um debate de idéias propositivas a melhorar o status quo de governo.

Mas o atual governo (PT) exauriu essas possibilidades.

O que vem sendo feito corrompe a boa lógica e práticas esperadas, como questões técnicas, legais e de governança (transparência). Vivenciamos a instauração de um regime comunista, onde vem prevalecendo a pobreza, a mentira, a manipulação, o furto de recursos públicos, a inversão de valores, a degradação da família e das instituições, o compadrio de relacionamentos e outros absurdos em meio ao gramscianismo de Estado.
 
Passo a discorrer sobre um assunto relacionado à falta do uso de arcabouço econômico para a tomada de decisões governamentais em projetos de infra-estrutura, mas que não vem ocorrendo somente aqui, sendo prática corrente em alguns países (China, Itália, Grécia, México, Rússia, Venezuela, Argentina, Bolívia e, mais recentemente, EUA).

É vital a todo projeto, afora tudo o que engloba engenharia civil e mecânica e estudos ambientais, a utilização de ferramental econômico-financeiro para sua viabilização.  Somente a viabilidade econômica poderá atestar as chances de que o projeto trará resultados e benefícios à sociedade dentro daquilo que dele se espera.  De nada adianta colocar sobre o papel a engenharia em todo o seu esplendor, para obras colossais.  Pois edificar é somente uma das questões. Operar o colosso e mantê-lo funcionando é a questão chave.

Pois essa questão do mandar fazer e depois ver o que a acontece, em meio a quem você conhece atende pelo termo de compadrio ou capitalismo mercantilista. 

Em alguns países trata-se de uma questão cultural.  Já em outros, decorre da infiltração de prática perniciosa e criminosa.  Em ambos os caso decorre do abandono da questão técnica, demorada e custosa, em favor de um processo mais ágil e menos oneroso, mas que invariavelmente produz custos exponencialmente maiores adiante.

Comecemos com o caso japonês.

Em praticamente toda a Ásia esse fenômeno é comum. Consiste no conhecer alguém que te abra portas, te financie ou avalize em diversas transações.  São três os tipos de relação de compadrio : - O modelo baseado na família; o de relações sociais e o de relações políticas.
 
No primeiro, baseado na família, grupos familiares se unem por meio de casamentos entre seus membros, e a partir disso passam a conduzir os negócios como sendo o negócio de uma família em complementação ao negócio da outra.
 
Gera-se dessa forma mecanismos de oligopolização ou até mesmo de monopolização com o passar do tempo.  No modelo de relações sociais o procedimento é similar, em que relações de amizade oportunas garantem o crescimento de empresas menores associadas a empresas maiores pelo acesso a determinados mercados ou nichos específicos, assim como facilitação ao acesso a empréstimos bancários.
Já o modelo de relações políticas é o mais danoso de todos, pois permite o acesso das empresas maiores, que realizam o compadrio com as empresas menores e com as famílias, ao governo. Junto a este, corrompe políticos e servidores, viciando todo o sistema burocrático para obter empréstimos subsidiados para o financiamento de seus projetos, repassando parcela às empresas menores e famílias a juros maiores, ou para forçar ao governo que realize obras que venham a beneficiar primeira ou unicamente a elas próprias, em detrimento de toda a nação.
 
O Japão, emergido da segunda guerra com vultosas somas originadas pelo plano Mashall, foi considerado uma superpotência econômica em 1980. No início de 1990 estava tão sobrepujado em sua riqueza que houve um boom imobiliário na Califórnia impulsionado por capitais daquele país. Eram comuns as charges em periódicos norte-americanos expressando esse reflexo. Mas uma em especial, publicada na Newsweek, era a de japoneses querendo comprar o estado inteiro da Califórnia.  

Esse tipo de relações gerou uma série de negócios voltados ao comércio de mercadorias, em que uma miríade de empréstimos bancários impulsionou exportações baratas (de produtos de baixo valor agregado – bugigangas de plástico e eletrônicos de baixa tecnologia) - sem que houvesse o devido mérito ao planejamento desses negócios.
 
As taxas de crescimento de sua economia eram elevadas, ano a ano. Mas esse crescimento estava menos relacionado à forma como tudo era gerenciado do que propriamente com a questão bancária.  Embora a rede bancária fosse regulamentada pelo governo, o pagamento de taxas de juros era extremamente baixo. Naquela época os japoneses ainda não detinham nenhum sistema público de aposentadoria, e estes planejavam-na com base em poupança pessoal junto à rede bancária.  Nesse sentido, o dinheiro era farto, com juros muito baixos, e emprestado, com base nos relacionamentos (fazendo com que inexistisse um mercado real), tornando a qualidade dos empréstimos bastante arriscada.
 
Dessa forma milhares de negócios foram abertos no Japão, onde a taxa de retorno não importava, mas sim a manutenção dos fluxos de caixa que mantinham as empresas maiores e os bancos operando, e assim pagando suas dívidas. Essa natureza operacional fez do Japão o país com a menor média de retorno sobre o capital entre os países industrializados. Porém, devido ao volume de empresas e empréstimos envolvidos, fazia com que a economia como um todo expressasse altas taxas de crescimento, até mesmo em função de como tudo fora estruturado, voltado para as exportações.
 

Dessa forma, foi criada uma espiral ascendente, pois as exportações de baixo custo foram impulsionadas, demandando mais dinheiro por empréstimos, gerando mais fluxo de caixa que proporcionava a continuidade do pagamento de grandes empresas e bancos, que continuavam a fomentar mais exportações. A economia crescia, porém, sem consistência econômica, lembrando um castelo de cartas prestes a ruir.
 

Em realidade, tratava-se da instalação de um Efeito Ponzi (1)  na economia.   Porque nos primeiros empréstimos, ainda que baseados em relacionamento, os tomadores com grau mais estreito de relacionamento tinham maior capacidade de desempenhar algum resultado comparativamente aos demais vindos posteriormente e à medida que a espiral avançava. Assim, os próximos tomadores de empréstimos tornavam-se mais arriscados, e com maior propensão ao risco de não honrar seus compromissos.
 
Mas não somente isso. Ao passo que aumentava a oferta de produtos exportáveis, assim como sua quantidade, as margens de lucratividade eram cada vez menores.  Dessa forma a estrutura da dívida foi se robustecendo, chegando ao ponto de se tornar impossível sua continuidade, assim como administrá-la, pois as exportações já não eram mais suficientes. 
 
Em fins de 1990 a economia japonesa iniciou seu colapso.  Os bancos começaram a falir. Mas em vez de ser gerado um quadro de depressão econômica, impondo a disciplina necessária, os bancos restantes foram salvos pelo governo. Isso explica o porquê de não ter havido um mal maior. Mas também explica as baixas taxas de crescimento que vêm se mantendo até hoje.  Em outras palavras, a depressão econômica, com um quadro de falências generalizadas por toda a economia, foi evitado, mas não um quadro recessivo que se estende até o presente momento, 2015.



Eduardo Mendonça
Economista - 6.502
Avaliador de Empresas

 
(1) – Situação de um devedor que, para pagar as dívidas passadas contrai mais dívidas no presente. Refere-se a Charles Ponzi, estelionatário ítalo-americano que, durante os anos 1920 prometia pagar taxas de juros extraordinariamente elevadas para quem lhe emprestasse dinheiro, e pagava essas dívidas com novos endividamentos, até quebrar. Essa experiência cunhou o termo através das finanças de um país com as mesmas características.

Monday 11 May 2015

As Democracias Ditatoriais


Artigo publicado no Jornal do Comércio - outubro/2012
 
 
O artigo anterior pautou-se na regulação financeira dos mercados. Concluiu-se pela não regulação das operações e que houvesse um fundo garantidor de crises futuras, mas que haja fiscalização sobre a alavancagem bancária, cerne do mercado financeiro, cuja pirâmide invertida tornou-se uma completa incerteza, a cujas operações o risco tem sido sistematicamente negligenciado.
 
Nesse sentido, toda celeuma financeira atinge a economia real, em que quadros recessivos, ou até de depressão econômica, passam a manifestar restrições ao comércio internacional em proteção ao mercado interno, culminando em arroubos nacionalistas quanto à política.
 
Assim o foi em 1929, conduzindo nações à II Guerra. O tem sido agora, com a Europa clamando por socialismo, com radicalização neonazista na Grécia. Também com os Estados Unidos cismando para invadir o Irã – mas como está em ano eleitoral contém-se com a CIA propagando a Primavera Árabe, agora na Síria.
 
Não tem sido muito diferente na América Latina. Porém, aqui não é preciso muito para que ações controversas ocorram. Caudilhista por natureza, a cultura da região simpatiza com condutas ferrenhas de seus líderes. Campo fértil ao populismo e à demagogia. Diferentemente dos déspotas esclarecidos do séc. XVIII, os déspotas bananeiros agem em total ignorância às consequências de seus atos, sejam jurídicas, diplomáticas ou, principalmente, econômicas.
 
Nos primeiros sinais de balança comercial negativa, restringem, obstam ou subvertem a economia, as leis e a informação. A Venezuela, hoje stalinista, vem sendo governada por Maduro, com total intervenção do estado na economia, perseguição à opositores, fechamento de canais de televisão e censura à imprensa; Na Argentina o Cristinismo Kirchnerista estatiza empresas e fecha-se ao comércio internacional enquanto impõem limites à imprensa e determina preços de produtos e serviços, manipulando-os.
Na Bolívia, além de uma refinaria brasileira estatizada, o governo pauta sua conduta segundo índios cocaleiros, com perseguição à opositores; Já o Paraguai incentivava a invasão da propriedade privada quando seu presidente foi deposto e um cívil foi conduzido ao poder); No Equador, idem, invasões de propriedades privadas; Honduras caminhava para uma reelaboração constitucional e restrição midiática - seu presidente foi deposto;
 
No Brasil temos desordem e esculhambação desenfreadas, começando pelo MST que é financiado pelo governo, em meio a outros absurdos, tais como : - Censura à mídia; invasão de propriedade estatuída em lei de “direitos humanos”; projeto de restrição à internet; controle do judiciário pelo CNJ; perda de reputação do sistema de informações brasileiro (Abin) perante Interpol, NSA e MI6; rompimento de acordos comerciais e diplomáticos com México, Itália e Mercosul; retrocesso diplomático e dissonante ao bom senso internacional; e mensalão para financiar um “projeto” de longo prazo para implantação de um regime comunista permanente (gramscianismo).
 
Todos esses exemplos negativos de atuação do Estado tendem a afugentar o Investimento Externo DiretoIED do tipo greenfield (produtivo), variável econômica que mais tem impulsionado países ao desenvolvimento, ou à sua manutenção. Pela Paridade de Poder de Compra (custos praticados pelos Estados Unidos, cujo índice é igual a 100), estes países possuem custo médio de investimento 30 a 50% do observado por países desenvolvidos (média 115), e abaixo da média geral de 75,95, tornando-os muito viáveis e atrativos a investimentos e lucros, mas desperdiçam essa vantagem, que não perdurará.
 

Numa rápida análise de dados em cross-section para 26 países e 12 variáveis, com cinco consideradas significativas, revelaram que o IED tende a comportar-se inversamente a posturas anti-democráticas, em média com redução de 181%, revertendo o processo para gerar  fuga de capitais. De cada US$ 1,00 investido em infra-estrutura, há retorno de 2,85% a cada país; exportações e importações funcionam atraindo e repelindo, respectivamente, porém com retornos infinitesimais, e cada percentual de variação do PIB atua positivamente com 2,84% de acréscimo para os países.
 
Como dito por Hayek, na conclusão do clássico “O caminho da Servidão”, “... uma política de liberdade para o indivíduo é a única política que de fato conduz ao progresso ...”, asseguro que é tão verdadeiro e atual quanto qualquer ideologia furada.

 
Eduardo Mendonça de Lima
Economista, Corecon-RS 6.502